25 de fevereiro de 2010

É uma espécie de voz que te guia

Eu acho que é do conhecimento geral esta obsessão que os ingleses têm pelas regras. E não é que ter regras represente nada de menos positivo – pelo contrário – num pais onde não há lugar às chicoespertices que tão bem conhecemos (e, sejamos sinceros, tantas vezes tentamos fazer) ninguém leva a melhor, ninguém passa à frente, ninguém empurra, ninguém invade o espaço do vizinho do lado (e já tive aqui oportunidade de parodiar sobra a forma como os ingleses não gostam de ser invadidos) – agora não pensem que os ingleses nasceram assim educadinhos e civilizados ou que aprenderam à primeira palmada que a mãe lhes deu. Não. Eles têm – sim – plaquinhas e cartazes espalhados aos milhares a lembrar-te o que "tens" e o que "não podes" fazer, irritantemente no sitio onde poderias "ser tentado a" ou "desejar" até – pecar ou errar. Enfim, coisas de seres humanos! E vocês podem dizer-me que o mesmo também há em qualquer cidade civilizada. Sim, claro. Mas não com o grau de imaginação e sofisticação atingidos por estes gajos! E posso dar-vos muitos exemplos (outros ainda vou ter certamente o gozo de descobrir!): na primeira carruagem do DLR (é um misto entre o comboio e o metro, i.e., é um comboio que anda rápido, faz distâncias curtas e leva-te à porta do escritório) existe uma placa ao lado da janela do condutor que reza qualquer coisa assim "por favor não distraia o condutor, quando esta for a carruagem da frente no percurso". WTF??? Ok, não distrair o condutor. Coisa pequena tipo esboçar um sorriso malandro? Ou mais grave tipo levantar a camisola e mostrar as boobs? Então e se a carruagem for a última do percurso vai lá algum condutor? Mas adiante. O segundo exemplo toca-me fundo no coração. Nesta cidade não se pode fumar um cigarrinho sossegada, como bem sabem. Mas como se não bastasse ter que rapar um frio desgraçado cada vez que tenho que vir para a rua fumar um cigarro, todos os sítios na rua (!), potencialmente menos desagradáveis de ser fumar (tipo quando há um pequeno telheiro, ou logo ali à porta do sitio onde se está, ou whatever!) têm a maldita da plaquinha a avisar que não podes fumar ali. Maldita plaquinha! Mas há mais: os restaurantes têm sempre à saída a chamadinha de atenção com qualquer coisa do género: "malta, vocês já vão ai aqueciditos, mas toca a aguentar os cavalos e a falar baixinho quando saírem, que a malta do bairro quer dormir". Corta baratos!

23 de fevereiro de 2010

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Um mês já cá canta.
E eu já tive tempo de fazer tantas coisas. Outras nem por isso.
Já mudei de casa
Já não tenho que pensar duas vezes onde estou quando acordo a meio da noite.
Já não acho estúpido almoçar à secretaria
Mas ainda não consegui jantar antes das oito.
Ainda penso em Português
Mas no outro dia deixar escapar que "os Ingleses têm um acento".
Já aguento melhor o frio
E bastou tropeçar à primeira para aprender a andar em passeios com neve.
Já tenho uma Sky Box e por isso ando mais contentinha com a televisão
Mas cada vez menos estou em casa para ver televisão.
Ainda só fui a um dos muitos mercados de Londres
Mas já fiz os percursos turísticos todos.
Ainda não saí para um verdadeiro posh club
Mas já sei que uma noitada em grande por aqui não passa das 4 da manhã.
Já perdi a capinha do meu Blackberry
Já perdi a cabeça com umas calças Armani.
Já uso a agenda do Outlook para marcar tudo, até as coisas pessoais
Já sei à terça feira o que vou fazer ao fim-de-semana
Já tive que trabalhar ao fim-de-semana.
Um mês já cá canta.

21 de fevereiro de 2010

E para que


um dia isto também sirva para termos uma ideia de onde se janta em Londres, hoje fomos a Marylebone a este restaurante Indiano, o Trishna. Sofisticado e distinto e, sobretudo, muito concorrido. Uma confusão na marcação das mesas fez com que esperássemos mais 20 minutos do que era suposto, mas isso valeu-nos várias compensações durante o jantar, desde provar uns pratos que não tínhamos pedido, às sobremesas ficarem por conta da casa. Nota para o facto da carta contar com vinhos Portugueses de mesa e o vinho do Porto ser o digestivo mais caro disponível. A experimentar, sem dúvida.

LL

20 de fevereiro de 2010

Uma sexta-feira em Londres

Piro-me do escritório às 7 horas, protegida pela imunidade garantida pelos usos e costumes locais. Encontro as ruas cheias de gente de copo na mão e ânimos em alta, parece que cheguei a uma cidade diferente daquela cheia de de gente cinzenta que enche o metro às oito da manha. Conheci mais duas portuguesas, amigas_de_amigas_de_amigas e trocámos as primeiras impressões acompanhadas de um vinho tinto no bar La Cave em London Bridge. Partirmos mais tarde apressadas para Angel para jantar num Turco simples e simpático, o Gallipoli, com mais dois portugueses, esses de visita. Conversas cruzadas, comida muito temperada, muitas histórias contadas e vidas que afinal têm algo em comum. Regressamos a casa a pé. Gente e mais gente nas ruas. Amanhã infelizmente é dia de trabalho, mas naquele momento isso não importa porque o amanhã ainda demora e tudo acontece rápido demais para se queimar tempo nesta cidade.

LL

18 de fevereiro de 2010

Orgulho azul

Ontem fomos a um Pub em Old Street. Duas Portuguesas entre dezenas de adeptos do Arsenal. Bebemos uma garrafa de vinho, trocámos alegremente os "v"s pelos "b"s e vimos o nosso FCP ganhar!

LL

17 de fevereiro de 2010

Carnaval

Enquanto Portugal dormia a sono solto, eu madrugava para vir trabalhar. Ninguém aqui se lembrou que era Carnaval, ninguém cantarolou pelos corredores "Brasiu…ta ra la la la la la la… ta ra la la la la la laaaa… Brasiu…", ninguém aqui tem pés para samba nem um sorriso colorido, ninguém aqui já deve ter bebido uma verdadeira caipirinha debaixo de uns bons 30°. Um país sem sol não merece Carnaval.

LL

12 de fevereiro de 2010

New beginning


Hoje começa tudo de novo. Retirar as roupas da mala, colocá-las cuidadosamente nos cabides. Escolher onde vou colocar as carteiras, os cintos. Ver como funcionam as máquinas. Ver se a janela do quarto fecha bem. Ainda não sei onde estão os talheres, nem o que se esconde por trás da porta da despensa. Mas já tenho as chaves da entrada e do correio. Fumar o primeiro cigarro na varanda. Conhecer melhor a minha flatmate.

Cheguei à minha casa para os próximos meses. Acabou-se o provisório, o desenrasca, as refeições do M&S, as malas perpetuadas no corredor. Agora estou em casa. Quando um dia for famosa, vão ter que fazer muitas placas "aqui viveu..." para cada uma das casas onde vivi!

Farringdon será o vosso destino durante este ano. Têm metro à porta, é só chegar e abancar!

LL

11 de fevereiro de 2010

Hoxton Square


Foi por aqui que andei na noite passada. Um restaurante Tailandês, o Yelo, e à mesa um grupo de amigos improvável, formado em Oxford há uns anos e unido até aos dias de hoje. Dois indianos, uma portuguesa, um americano, um irlandês, uma mexicana e eu. Mais uma vez senti que aqui não é difícil encontrar coisas em comum com quer que se sente à mesa contigo.

Só sei que no final do jantar ficou uma promessa de um fim-de-semana em Oxford para recordar os velhos tempos - programa que me incluía a mim, afinal quem estudou em Coimbra percebe bem o que significa viver num ambiente estudantil assim – e a minha promessa de trazer bacalhau e vinho do Porto para um jantar português preparado por mim.

LL

9 de fevereiro de 2010

Lunchtime concert



Levantar-me da cadeira às 12h29, descer 25 pisos, entrar no auditório para assistir a mais uma edição dos lunchtime concerts. Encontrar uma plateia ansiosa para assistir à performance da pianista malaia Mei Yi Foo, uma figura franzina vestida a rigor escondida por trás de um grande piano de cauda. (se quiserem saber mais em http://www.meiyifoo.com/)

Foram 45 minutos - nem mais nem menos do que o previsto no programa - de puro relaxe e reflexão. Sair da sala com a sensação de que um dia aqui pode conhecer nuances tão diversas e surpreender-me ainda, quando eu já achava que tinha visto tudo.

Continuo a não encontrar palavras para qualificar iniciativas destas, atendendo a que não passam de pequenos "mimos" para os trabalhadores e advogados do escritório.

A partir de hoje não falharei um.

LL

8 de fevereiro de 2010

TV

Viver com os canais abertos da televisão inglesa é tão mau ou pior do que seria viver só com a nossa SIC e TVI, só que sem a parte das telenovelas. Aqui não há histórias de dramas familiares nem amorosos, mas programas que conseguem ir desde as cirurgias plásticas em directo a aconselhamento de visual para aquelas inglesas que não conseguem ter um aspecto decente nem que se esforcem muito para isso. Preciso urgentemente de uma televisão decente, devolvam-me a SIC Notícias e os canais Fox, please!
LL

5 de fevereiro de 2010

Os elevadores

Ok, vamos lá esquecer a educação que a minha mãezinha me deu.

Bastou uma semana a soltar simpáticos "good mornings" no elevador e a ser alvo de olhares espantados como se fosse um alien, para desistir de cumprimentar as pessoas que não conheço ou a quem não fui apresentada. Aqui ninguém gosta de cumprimentar desconhecidos, ainda que sejam colegas – até aí tudo bem, cada um faz o uso que quer da sua educação – mas o mais insólito é que também não gostam de ser cumprimentados – é uma espécie de prevenção, não vá esse vírus lixado da simpatia torná-los simpáticos para todo o sempre.

LL

semana 2


O tempo passa mesmo rápido, por aqui. A minha segunda semana já esta a terminar e ainda nem tive tempo de abrir uma das malas que trouxe. Sinto que ainda nem cheguei direito!
Ontem tive mais um jantar com a anfitriã, desta vez em Covent Garden. Um restaurante Mexicano espectacular, o Wahaca. Cumpre os três "B"s que se agradecem nesta cidade: Bom, Bonito e Barato. E os Mojitos so ajudaram a ficar ainda mais fã do sitio!
Hoje não consegui levantar-me às 7h30 para ir suar para o spining, mas valeu a pena conhecer mais um sitio e começar a somar à minha lista.
Hoje é também um dia memorável para mim como residente no UK. Depois de algumas peripécias e relações cortadas com uma instituição bancária, finalmente tenho uma conta bancária em solo inglês.

LL

2 de fevereiro de 2010

...

Não sei se é desta minha facilidade de gostar das pessoas e dos sítios por onde passo, mas hoje foi mais um daqueles dias em que gostei de estar aqui.

Gostei do que estou a fazer, gostei de estar do lado de cá a falar com Portugal, gostei das breves conversas com o meu chefe cá do sitio, das propostas para valorizar o meu know how Português, gostei das sapatilhas que comprei para amanhã recomeçar a ginástica, gostei de ver as luzes da noite a abaterem-se sobre a cidade, ainda que 2 horas mais cedo do que em Portugal.

LL

1 de fevereiro de 2010

fim-de-semana

Saí do escritório já tarde. Chegada há 2 dias e 1/2 não houve tréguas para principiantes e fiz a primeira noitada para aprender como se vive por cá desde o início.
Valeu um longo passeio no sábado por Kensington, Chelsea, Knightsbridge, Westminster, Covent Garden. Nada como conhecer esta cidade a andar a pé, sentir o frio rachar a pele e estalar os dedos, intercalando com uns cafés do costa ou do café nero. Acabámos a comprar 2 garrafas de vinho para a anfitriã do jantar e minha anfitriã nesta cidade. Um jantar intimista, com 2 búlgaros, um australiano e 5 portugueses a trocarem experiências de vida e de vidas.
O domingo valeu uma visita ao Tate e não fosse ter vacilado numa despedida a meio caminho entre dois corredores do metro e um "até já" com a voz embargada, o fim-de-semana seria mesmo perfeito.

Comprei uma publicação da Time Out "London for Londoners" para me profissionalizar como anfitriã e para que entre o momento em vos receba de braços abertos e me despeça com aquela inevitável sombra no olhar, haja um mundo de coisas para mais tarde recordar.

Cá vos espero!

LL
 
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