30 de novembro de 2010

A face menos glamorosa da vida

É muito giro ver Natais pintados de neve branca nos filmes, quando eles andam milagrosamente sequinhos pelas ruas de NY às compras e intercalam com umas paragens para chocolate quente e uns beijinhos apaixonados em Times Square. Não é giro acordar às 7h com a perspectiva de apanhar um frio de rachar, vir a tropeçar no gelo acumulado no passeio até ao metro mais próximo e depender das graças de Deus para não escorregar mesmo e torcer um pé.

25 de novembro de 2010

O talento não envelhece

Não consigo deixar de me sentir desconfortável quando, depois de anunciarem o seu nome e em contraste com o forte aplauso que rapidamente inunda a sala, entra em palco num passo inseguro e trémulo, aquele corpo débil e franzino, deixando perceber os vestígios da passagem de uma juventude intensa e de uma vida que conta já com 80 longos anos. E ainda assim, é de cabeça erguida que carrega com esforço o saxofone, como se não lhe pesasse mais do que aquilo que ele consegue suportar. O primeiro sopro soa afinado mas incerto, no entanto a falta de firmeza vai desaparecendo ao longo dos primeiros minutos, quando o homem dá lugar à lenda e se percebe que afinal a força está na grandeza e na paixão que se dedica àquilo que se faz. Depois de duas horas ininterruptas a vê-lo tocar de pé com a pujança necessária para levar ao rubro aquelas milhares de pessoas, esqueci o desconforto de assistir à imagem da fragilidade humana e percebi porque este senhor vai tocar até morrer. Porque quer morrer feliz.


22 de novembro de 2010

Back to the good old times

Não sei se se recordam do cepticismo que manifestei aqui. Eu bem acreditava que coisa boa não podia vir do Indiano. E a verdade é que não só lhe dei de mão beijada £50, sem piar nem pedir recibo, como estive 3 semanas a usar um computador sem Office (ele garantiu-me que o meu computador ficava como novo se ele apagasse tudo) e de um dia para o outro.. Pufff… foi-se. Não liga. Não responde. Deu o pifo. Ele e as 1323476874 músicas que tinha comprado no iTunes ao longo dos últimos 3 anos porque sou uma gaja honesta que não alinha em downloads ilegais (versão real: que nunca tentou ir a sites de downloads ilegais porque é preguiçosa e é mais facil ir ao iTunes pagar e já esta) e as fotografias da minha vida (não foi tão grave assim, a maior parte esta num disco rígido, mas algum drama adicional também faz falta).
Estou mesmo lixada. Até tinha programado um post simpático para hoje sobre o concerto do Sonny Rollins mas não sou capaz de dizer nada de positivo depois de ter perdido o meu PCzinho e ter recuado 30 anos. É desta que compro uma máquina de escrever. E já agora uma grafonola.


19 de novembro de 2010

O anel de Kate


Eu sei que estão todos muito empenhados em que eu assista ao fim do mundo e um par de botas enquanto cá estou, mas também era escusado casarem-me o rapaz.

18 de novembro de 2010

It's all about Jazz

A par com os BBC Proms e mais uns concertos aqui e ali, o London Jazz Festival era um dos must go da minha passagem por Londres. E como não sei fazer as coisas por menos decidi ir a 3 concertos – Esperanza Spalding, Herbie Hancock e Sonny Rollins – dois dos quais já aconteceram e o terceiro será este fim-de-semana.

Esperanza era a minha "cabeça de cartaz" e o concerto que eu esperava com mais expectativa. Porque sou uma completa fã do estilo dela, da presença (imaginava eu), da voz doce e ingénua e – claro – das maravilhas que ela faz com aquele contrabaixo.  Porque sim. Mas desiludiu. Para além da miúda padecer daquele problema de mudez em palco – não trocou uma única palavra, um único olhar cúmplice com o publico – achei-a enfadonha, balofa (no sentido figurado, claro) e acho que não fui só eu a abrir a boca várias vezes durante a noite. A qualidade musical não deixou a desejar – entenda-se – gostei bastante das músicas e sobretudo de uma cantada à capela que até me arrepiou. Mas para ouvir música perfeitinha compro o CD ou ouço no meu iPOD. Esperava mais da moça.

Herbie Hancock dizia-me pouco, muito pouco. Mas com ele foi sempre a subir, a subir na consideração, tanto a subir que acabei o concerto super fã dele, de pé, a dançar com os bracinhos no ar a música do encore e a pedir mais com quanta força ainda me restava nas mãos escaldadas de tantas palmas bater. Foram 3 horas de concerto, num final de tarde triste, de um domingo de chuva. Mas ainda assim aquele dinossauro conseguiu que saísse dali a cantarolar. Muito, muito bom. Até vos deixo em baixo um cheirinho da tal música das palminhas do concerto caso não estejam a ver quem é o senhor.

Sonny Rollins será este sábado. O relato aparecerá por cá a seu tempo.



17 de novembro de 2010

Não quero meter nojo nem nada

Mas foi aqui que passei os últimos 2 dias. E tinha SPA.

Eastwell Manor
(Kent)

O que seria dos reencontros se não existissem despedidas

"Londres, 14 de Novembro de 2010

Querida L.,

Se eu pudesse ter um dom... Agora (a caminho do aeroporto) escolheria o "dom de fazer perdurar um momento"... Não para sempre mas pelo tempo suficiente pra m sentir "consolada"...
 Soube a pouco... sabe SEMPRE a pouco! Mas foi o suficiente para levar comigo para casa a certeza que estás bem... (por mais que me custe admitir!)
Foi um fim-de-semana em cheio! Levo uns sapatos já apenas com meia sola, um saco cheio de conversas intermináveis, um sorriso maroto e cúmplice, mil imagens dos lugares que percorres todos os dias e uma (várias) intenções de voltar!

As vivências dão a grandeza que nos define e eu sou GIGANTE, muito graças a te ter na minha vida...

E porque alguém me disse "se não houvesse despedidas, não existiriam reencontros"... Um ate já!
P."

12 de novembro de 2010

Sabor a mar

Eu acho que sinceramente vocês deviam começar a preocupar-se comigo – isto anda tão mau, tão mau, que 2 semanas e meia depois eu só tenho um novo sitio para acrescentar à listinha simpática aqui do lado direito. Preciso de um banho de vida social, é isso mesmo.

Para um ser não carnívoro como eu, é sempre motivo de redobrada felicidade conseguir uma boa refeição de peixe&marisco em terras de HM, que saiba a peixe&marisco e não esteja mergulhada em caril ou natas ou qualquer uma dessas modernices que só servem para entreter. Depois (ou a par com) do Fishworks que já aqui falei há umas semanas, aqui está um belo de um sítio para apreciadores. Simples. Sem mais do que aquilo que é preciso.

11 de novembro de 2010

Poppy Day

Porque um pouco de cultura geral não faz mal nenhum a este blog.
Hoje celebra-se em todos os países da Commonwealth o Poppy Day (ou Remembrance Day), o dia em que se recordam todos os civis e membros das forças armadas mortos ou feridos em guerra. Esta data marca também o fim da primeira Guerra Mundial, acordado acontecer na 11ª hora do dia 11 de Novembro de 1918, e por isso (diz-se) desde 1919, toda a gente (e isto é mesmo real, eu posso comprovar que é muita gente mesmo) usa por esta altura uma papoila na lapela  e às 11h neste dia fazem-se 2 minutos de silêncio. O simbolismo da papoila está relacionado com o poema que transcrevo em baixo.

Esta manhã quando soaram os altifalantes no escritório não se tratava de mais um daqueles testes do alarme de incêndio que me tiram do sério, mas a ordem para os 2 minutos de silêncio. Viver num país e criar afinidade com a cultura é também isto mesmo.


The first chapter of In Flanders Fields and Other Poems (a 1919 collection of poems by John McCrae) gives the text of the poem as follows:
In Flanders fields the poppies blow
      Between the crosses, row on row,
   That mark our place; and in the sky
   The larks, still bravely singing, fly
Scarce heard amid the guns below.

We are the Dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
   Loved and were loved, and now we lie,
         In Flanders fields.

Take up our quarrel with the foe:
To you from failing hands we throw
   The torch; be yours to hold it high.
   If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
         In Flanders fields.


Mau tempo no canal

É muito bonito trabalhar em edifícios todos envidraçados, mas não em dias de vento furioso como o de hoje em que isto mais parece a casa dos espíritos.

9 de novembro de 2010

House warming

Quase um ano depois, decidi fazer a minha house warming. Mas deparei-me com a triste realidade de que perdi o jeito para estas coisas - para além de falhar os cálculos das doses e reparar que no final era já toda a gente sôfrega a atacar o que restava das entradas, o que depois do prato principal é muito mau sinal; lembrei-me 5 minutos antes das pessoas começarem a chegar que não tinha talheres para todos. Pois, nem travessas suficientes. E também não tinha música. Valeram-me a boa vontade da vizinha e a minha capacidade de improviso. Graças a um momento de inspiração decorativa falhada, também arderam velas e a mesinha de apoio tornou-se – primeiro - numa imensa chama e – depois - num mar de cera líquida. Eu só cheguei na parte da cera líquida, e ainda bem, não tinha ganho para o susto. Partiram-se 3 copos e no dia seguinte contei 10 garrafas no vidrão, mas ninguém se queixou do barulho como nos velhos tempos de Coimbra em que não havia festa em que não fôssemos ameaçadas de despejo. Brindámos com Porto, cortesia da outra vizinha. Fomos 3 Continentes numa sala tão pequenina. E ao meu melhor estilo – não podia deixar de ser – acabei as despedidas com a promessa de fazer algo parecido cada dois meses. Pois.

4 de novembro de 2010

Confissões nocturnas III

1. A voz estridente da colega que se senta na sala do lado irrita-me profundamente - cada vez que ela abre a boca só me apetece amordaçá-la para se calar para todo o sempre.

2. Quando a minha colega de sala deixou escapar hoje ao telefone que não sei quem não tem formação jurídica inglesa e por isso nem deveria ser considerada estagiária (embora eu saiba que ela não estava a tentar mandar-me um recado a mim e que ela tem é inveja das pernas jeitosas e da carinha laroca da suposta "estrangeira" – que por acaso é uma russa lindíssima de morrer, mas só por acaso), só me apetecia esbofeteá-la.

3. Sabe mesmo bem dizer estes disparates de vez em quando.

3 de novembro de 2010

O desafio continua.....

O meu Outlook lembrou-me esta manhã que estava na hora de dar o notice do meu apartamento. Se o destino fosse uma realidade estática, eu estaria hoje a começar a preparar o meu regresso a casa. Mas como não é - siga a marinha e a minha missão por terras de HM mais 6 meses.

2 de novembro de 2010

Obrigada


By
os amigos de sempre

"Longe ou perto, de forma visível ou invisível, no escuro ou na claridade, durante o dia ou durante a noite, com todo o tempo do mundo ou mais a correr, com um sorriso ou uma lágrima, com um abraço ou uma mão, com mais ou menos rugas, para contar ou para ouvir, para discutir ou para apaziguar, para dar ou para receber, para abanar ou para descansar, para marcar ou ser marcado... Para ti ou para nós. Seremos sempre os mesmos. Estaremos sempre cá". NóS


Para ilustrar a minha gratidão por todos os gestos de carinho que recebi este fim-de-semana, escolhi a imagem e o texto que me foram oferecidos pel'Os amigos. Eles sabem bem quem são, os autores desses gestos. Porque não há nada de mais especial que alguém nos possa dizer, do que a promessa de que estará a nosso lado para sempre.

Obrigada a todos pelos sorrisos, pelas palavras, por fazerem parte das histórias que foram ficando gravadas nas rugas que me já me vão lembrando que andamos aqui há uns anitos.
 
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