5 de maio de 2010

O 30 de Abril em Amesterdão - As impressões

O dia da Rainha consegue fazer na Holanda aquilo que nós nunca conseguimos em Portugal – uma festa que os une num forte sentimento de nacionalismo e em que celebram precisamente o facto de serem holandeses. Em Portugal, não fosse o futebol e a feliz coincidência de nos termos aguentado até à final do Euro 2004 – não me recordaria de termos celebrado sem bairrismos à mistura as cores da nossa bandeira. E ainda assim foi preciso vir um brasileiro lembrar-nos disso.
Agora imaginem uma cidade pintada de laranja, milhares de pessoas a chegarem vindas de todo o lado cada uma com um adereço laranja mais original do que a outra, palcos montados em cada esquina, músicos e bandas espontâneas por todo o lado, bebida – muita – bebida, canais pejados de barcos cada um com a sua música e a completar o ramalhete: os holandeses – um povo que, entenda-se, não deixa nada a dever à galhofa. A festa começa às 7 horas de um dia e acaba na madrugada do segundo dia depois. Isso mesmo, perceberam bem. São aí umas 36 horas de gente a vaguear ininterruptamente nas ruas, a fazer as coisas mais doidas que possam imaginar. Bem-vindos a Amesterdão no(s) dia(s) da Rainha.
A primeira noite foi passada - se não totalmente – grande parte em claro. Vozes, gargalhadas, música, cornetas, garrafas a partir – a começar, os holandeses gostam de começar em grande e dormir é para os fraquinhos. Às 10 da manhã do dia seguinte já estava na rua e nem queria acreditar quando me vi (às 10 da manha não se esqueçam) numa grande praça onde estava a acontecer uma rave e onde se reunia o maior número de gente passada por metro quadrado. Juro que pensei que ia ver muitos caídos pelas ruas ao longo daquele dia quando os vi alegremente a dançar em cima de paragens de autocarro, pendurados em estátuas, em varandas como se não houvesse amanhã… enfim, o diabo a quatro. Mas não pensem que a mesma loucura se reproduzia em toda a cidade – era possível escolher entre estar nas zonas calmas e elitistas, a ouvir umas musiquinhas in, beber Moet e comer ostras, como saltar para as ruas hard core e confiar no destino.
Para além disto, no dia da Rainha os holandeses abrem a porta de casa e vendem tudo o que lhes dá na real gana, ali mesmo: roupas usadas, mobílias, home made food, bebidas, tralha e mais tralha. Alguns punham os filhos a tocar ou a fazer qualquer graçola e – sem dúvida – conquistavam uma grande assistência e uns trocos extra para patrocinar os copos. Todos participam na festa.
No fim (sim, ficar um dia depois permite ver o "resultado" de tamanho empreendimento) a cidade ficou completamente virada do avesso, lixo por todo o lado, parecia que tinha acontecido ali uma guerra civil. Mas os holandeses não pareceram preocupar-se muito com isso: não vi um varredor, um carro vassoura a tentar devolver apressadamente a dignidade à cidade. Talvez nisso eles sejam parecidos connosco – primeiro há que curar a ressaca, afinal, o que há mais é tempo para apanhar os foguetes.

3 comentários:

  1. Consegues pôr toda a gente que lê o post, nem que seja por dois ou três minutos, na Holanda...

    E cheios de vontade - pelo menos, falo por mim - de para o ano ir dar os parabéns à Rainha laranja em pessoa...

    Beijos!

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  2. Podes crer que vale a pena RCN! Um beijinho e saudades!

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  3. que grande loucura... para o ano podias dar o toque à rainha a ver se ela nos convida também! ;) beijo grande

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