Não consigo deixar de me sentir desconfortável quando, depois de anunciarem o seu nome e em contraste com o forte aplauso que rapidamente inunda a sala, entra em palco num passo inseguro e trémulo, aquele corpo débil e franzino, deixando perceber os vestígios da passagem de uma juventude intensa e de uma vida que conta já com 80 longos anos. E ainda assim, é de cabeça erguida que carrega com esforço o saxofone, como se não lhe pesasse mais do que aquilo que ele consegue suportar. O primeiro sopro soa afinado mas incerto, no entanto a falta de firmeza vai desaparecendo ao longo dos primeiros minutos, quando o homem dá lugar à lenda e se percebe que afinal a força está na grandeza e na paixão que se dedica àquilo que se faz. Depois de duas horas ininterruptas a vê-lo tocar de pé com a pujança necessária para levar ao rubro aquelas milhares de pessoas, esqueci o desconforto de assistir à imagem da fragilidade humana e percebi porque este senhor vai tocar até morrer. Porque quer morrer feliz.
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