15 de junho de 2010

O dia em que fui à ópera

…e não cheguei a tempo.

Tinha comprado os bilhetes dois meses antes, depois de uns bons dias a pensar o qual, o quando e o quanto – já que escolher uma ópera não é assim por da cá aquela palha. Lá me decidi pela Royal Opera House e pela Le nozze di Figaro, de Mozart e afixei religiosamente no meu placard ao lado do computador o comprovativo do bilhete como quem não quer que se dilua no tempo a solenidade do momento. E embora o critério de escolha dos lugares tenha sido a fasquia dos 3 dígitos, até que ficámos numa localização bem digna e até diria que (o que) vi tão bem como aquelas senhoras de estola que se sentavam importantes na fila da frente. Tudo muito bem até ao dia em que o meu Outlook me relembra que dois dias depois é dia de ópera. E eu como personagem principal de uma das piores semanas profissionais da minha vida. Foram 3 dias de um jogo de cintura criativo para tentar convencer tudo e todos que naquela 4f eu não faria assim tanta falta a ninguém e que o mundo continuaria a ser o que é, ainda que eu cometesse a loucura de ir a uma ópera às 7 da tarde. E as minhas preces foram ouvidas, estava tudo a postos para a minha ida. Chegam as 6.30 e eu corro para o elevador, apresso a descida dos 25 pisos como posso, lanço-me loucamente em direcção ao metro por entre pessoas preguiçosas nas escadas e nos corredores, tentando evitar todos os factores externos que pudessem desacelerar a minha maratona. Chego – enfim – à ROH. O meu relógio marca as 7 em ponto. Disfarço a minha sofreguidão até à bilheteira – ainda tenho que levantar os bilhetes e não quero que se duvide sequer da minha legitimidade para receber os bilhetes e assistir à opera. Bilhetes em punho dirijo-me triunfante para a porta e eis senão quando um daqueles senhores que adora a profissão que tem (barrar a entrada de pessoas que já tiveram um dia de merda, se esforçaram tanto para chegar ali e acabam por morrer na praia) me diz que infelizmente o primeiro acto começou há 5 minutos e eu não posso entrar. (.....) Por melhor que eu escrevesse, não conseguiria descrever o que senti naquele momento. Raiva? Desilusão? Irritação? Tudo isso. Mas ainda tentei… "Vá lá, deixe-me lá entrar… tenho ideia que o meu lugar é assim num cantinho…ninguém vai dar por nada, prometo… pleaaaaaseeee", mas a minha esperança esvai-se quando os atrasados seguintes acatam serenamente a nega, ao melhor estilo britânico. E lá fui eu, furiosa na minha inconformidade lusa até um andar esquecido e pobre daquele belo edifício, assistir ao primeiro acto por uma televisão. Eu e mais uma dezena de totós como eu. Certamente advogados. Uma hora e meia a assistir à obra prima de Mozart pela televisão.

4 comentários:

  1. Afinal tinha que pelo menos relater de forma divertida o que foi um momento de perder a cabeca! :)
    Beijinhos!

    ResponderEliminar
  2. Muito bom. Dei umas boas gargalhadas, mas, imagino o desespero (e a vontade de agarrar o senhor pelo pescoço...)!!

    ResponderEliminar
  3. muito bom!!! mas chegaste amiga! chato, chato, foi o teu choradinho típico não ter surtido efeitos...:)

    ResponderEliminar

 
Site Meter Site Meter