2 de julho de 2010

Quando o tempo nos ensina a estar errados

No dia em que recebi a notícia que iria deixar de partilhar sala no escritório com uma Argentina sonora e sorridente como eu, para passar a estar à volta de 12 horas fechada numa sala com uma britânica de gema, super posh, super polite, super tudo – achei que não só a minha, mas as nossas vidas se iam tornar num pequeno inferno a partir dali por incompatibilidade de convivência e de feitios. Aliás, eu tinha a certeza que isso ia acontecer. Sonhava com isso. Imaginava-me durante um longo ano amordaçada e cinzenta como as roupas que ela usava e não vislumbrava outra possibilidade de escapar a tal sorte senão tornar-me de tal modo insuportável que fosse necessária intervenção superior (ou divina, quem sabe) para repor a normalidade às nossas vidas.
E o tempo foi passando e foram-se somando horas de convivência forçada, no início silenciosa, depois pontuada com uns pequenos gestos cordiais. As primeiras conversas pessoais surgiram tão naturalmente que nem me apercebi a evolução que era uma inglesa partilhar comigo coisas do seu mundo íntimo fora das 4 paredes de UBS. Hoje ela brinca com o meu timbre de voz e com as minhas trapalhices gramaticais, como eu gozo com o facto dela nunca ter ido a Camden Town e achar que Londres são as casinhas brancas e betinhas de West London.
E a prova de que as circunstâncias da vida e as pessoas nos podem surpreender, será eu estar amanhã a entrar num comboio em direcção a algures na periferia de Londres, a caminho de uma casa de família inglesa para a "festa anual" da família, onde se joga cricket, se bebe chá às 5 da tarde, se janta e acampa por lá. Há 4 meses atrás isto seria ficção ou algo mais perto de um filme cómico, hoje fico feliz por ter deixado que a vida me surpreendesse e mostrasse que posso estar errada, mais desta vez.

5 comentários:

  1. Muito giro... acompanhei de perto essa fase de mudança e bem sei os receios!! Uma coisa é certa - tu facilmente a conquistaste... tens essse poder natural e inacto!! Beijo grande!!

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  2. Fantástico!

    (L.L.: ler os teus posts, a forma como escreves, com a emoção que aparece em cada palavra, é um dos momentos altos do meu dia. Sinceramente!! Bjs!)

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  3. Muito bom. Muito bem escrito... quase real para quem lê. É muito giro perceber que a evolução dessa relação acabou por ser (muito)positiva. Ela rendeu-se à tua energia e tu, aos poucos e com alguma resistênca, a ela!Vais à festa de que falaste quando cá estiveste, asim com um jeito "impossível para mim" e vais divertir-te, estou certo!
    Beijos. Estou como o AP... são grandes os momentos que passamos à volta do "teu desafio"! bjs

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  4. Dava tudo para ser uma mosquinha e poder amanhã ver-te na "festa de família"! Ahaha! És a maior, L.L.!

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  5. Obrigada por darem todos os dias sentido às minhas palavras e por fazerem deste canto virtual mais do que um relato da minha experiência pessoal, um encontro. Sem a vossa "presença" isto não faria sentido! Um beijo, LL

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